terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Five Elements Ninjas [1982]


Aka: Wu dun ren shu, Five Element Ninjas, Super Ninjas, Chinese Super Ninjas, O Super Dragão Chinês.
Companhia: Shaw Brothers
Diretor: Chang Cheh
Diretor(es) de ação: Ricky Cheng Tien Chi, Chu Ko.
Elenco: Ricky Cheng Tien Chi, Michael Chan Wai Man, Lo Meng, Chen Pei Hsi, Kwan Feng, Chan Shen, Lung Tien Hsiang, Wong Wai Tong, Siao Yuk, Wong Wa, Lam Chi Tai, Ngai Tim Choi, Chiu Gwok, Chow Siu Loi, Wang Li, Chu Ko, Chui Tai Ping.

Até que enfim o mais maravilhoso filme de ninja já feito, o favorito de 9 entre 10 fãs da boa e velha escola, recebeu os cuidados da Celestial e com a remasterização vieram algumas revelações. Diferente do que se pensava, os Venoms Lu Feng e Chiang Sheng não participaram das coreografias. Nesse mesmo ano, os dois já haviam deixado a Shaw Brothers, retornado a Taiwan e estavam participando da primeira experiência de Kuo Chui como diretor, um filme chamado Ninja In The Deadly Trap (esse foi o primeiro e único filme dirigido por ele). Outra revelação diz respeito aos cortes, a maioria deles feitos em cenas não importantes com a óbvia intenção de encurtar o filme pra caber nas programações de TV. As exceções são a cena em que aparecem os seios de uma ninja e o desfecho do filme, que aliás, é muito melhor do que eu imaginava. Vários atores desconhecidos até então tiveram suas identidades descobertas, entre eles Wong Wa, figura freqüente em vários filmes dos Venoms, sendo o papel de surdo-mudo em The Sword Stained With Royal Blood (81) o de maior destaque feito por ele.

Five Elements Ninjas foi concebido pra estréia de Cheng Tien Chi (aka Ricky “Oh, que lindo!” Cheng. Pra quem não entendeu, é um trocadilho com o título Ricky Oh – A História de Ricky...tá, é horrível, mas por favor relevem, sim?) como protagonista na Shaw Brothers, a “nova aquisição” de Chang Cheh (como diz no trailer). Mas de nova essa aquisição não tem nada. Muito antes, em 76, Cheng estreou na SB em um filme do próprio Chang Cheh chamado The Shaolin Avengers, protagonizado por “Alex” Fu Sheng e Chi Kuan Chun. Muito provavelmente Cheng foi descoberto no mesmo período (início dos anos 70) em que os já citados Lu Feng e Chiang foram, já que os 3 cursaram juntos a mesma escola de ópera em Taiwan.


“The ninja costumes and the weaponry’s production and application are based on the historic literature ‘The Illustrated Criminal Acts in Tokugawa’s Shogunate’, ‘The Best Capturing Weaponry Of Southern Barbarians’ and ‘The Catalog Of Batons’. Other references include the collections of Matsunaga and Teruo Doi, and the literary works by martial artists Hatsumi Masaaki and Nawa Yumio.”

Os membros da Aliança foram desafiados por uma escola rival e neste duelo ficaria estabelecido quem seriam os “líderes do mundo marcial”. Depois de 9 combates a vitória da Aliança estava praticamente garantida, mas na décima e última luta o chefe da escola do mal (Chan Shen) chama o aliado samurai Kuwada San (Wong Wai Tong) pra lutar em seu lugar. Kuwada San derrota o seu rival e o induz ao suicídio (“When a fighter loses one strike it means losing his life” ou ainda, na versão dublada: “Loss of a fight means loss of one’s life for a samurai”). O emuxo se suicida e Zhi Sheng (Lo Meng) vai dar um corretivo no japonês, que agora é obrigado a cumprir a sua própria filosofia. Antes do arakiri ele aconselha o chefe do mal a procurar pelo seu amigo ninja Kembuchi Mudou (Michael Chan Wai Man) e envenena o chefe da Aliança.


Kembuchi, o “Rei dos Ninjas”, chega à cidade e prontamente envia um desafio à Aliança. Mestre Yuan (Kwan Feng) não pode lutar devido ao envenenamento e nem sabe como instruir seus discípulos a enfrentarem os “Ninjas dos 5 Elementos” de Kembuchi Mudou. Esses ninjas se dividem em 5 grupos: ouro, madeira, água, fogo e terra. Os do elemento ouro usam roupas douradas e chapéus que ofuscam a visão das vítimas; os do segundo elemento se disfarçam de árvores e usam ganchos nas mãos e nos pés; os da água se escondem embaixo d’água; os do elemento fogo usam fumaça pra atrapalhar os adversários e os da terra “brotam” do chão. Mesmo na total ignorância, o mestre delega os seus melhores alunos a enfrentarem a situação: 8 deles vão sair a procura dos elementos e 2, Zhi Sheng e Xiao Tian Hao (Ricky Cheng Tien Chi), vão ficar pra fazer a segurança interna da Aliança. Os 8 são massacrados e agora todo o encargo está nas mãos dos 2 que ficaram.


Zhi Sheng acolhe, contra a vontade de Tian Hao, uma moça que estava sendo espancada às portas da escola. Ah Shun (Chen Pei Hsi) é uma garota boazinha, mas Tian Hao não vai com a cara dela, passando a maltratá-la e toda essa “implicância” dele é vista como infantilidade. Ele perseguia a mulher em todos os lugares, ficava de olho em tudo que ela fazia e mesmo sem saber ao certo, Tian Hao tinha acertado na mosca em suas suspeitas. Ah Shun na verdade é Junko, uma espiã enviada por Kembuchi com a missão de fazer um mapa do QG da Aliança, pra facilitar a invasão. Zhi Shang se tomou de amores por Ah Shun e sempre que Tian Hao estava prestes a descobrir a identidade dela, ele chegava pra impedir (“Pô, Tian Hao, pára de assustar a menina!” - mais tarde Zhi Shang pagaria caro por essa santa ingenuidade.). Kembuchi recebe o mapa de Junko e da destruição da Aliança temos apenas um sobrevivente, quem será ele? O sagaz (e sortudo) Xiao Tian Hao. Ele é salvo pela ninja espiã e mantido preso. Enquanto ele está lá preso, descobrimos que ele é ainda mais sagaz do que imaginávamos. É que ele, tempos atrás, aprendeu algumas técnicas ninjas com um velho mestre. Junko vai fazer uma visitinha a ele, se derrete toda, diz que é apaixonada por ele, tira a roupa...mas Tian Hao se aproveita desse momento de distração e prega uma peça na ninja excitada, tomando-a como refém e fugindo logo depois.


Tian Hao vai recorrer ao velho mestre e pedir que ele ensine mais sobre o ninjitsu. Lá ele encontra mais 3 discípulos do velho (Wang Li, Chu Ko e Chui Tai Ping) dispostos a ajudar na vingança e depois de muito treinamento ele desafia os ninjas de Kembuchi. Junko foi punida depois de ter se entregado àquele momento de luxúria e de ter se esquecido de manter o seu posto, mas Kembuchi resolve perdoar essa falha se ela descobrir todos os detalhes da vingança de Tian Hao. Ela vai até ele, mas não resiste e começa tudo outra vez. Dessa vez o espertão dá bastante corda, mas coitada, ela tem mais uma surpresa desagradável (quem mandou ser tão perva?). Agora com meia alma lavada, Tian Hao precisa lavar a outra metade, acabando com a raça da corja de ninjas.


Assistir a esse filme umas mil vezes na versão tosca disponível da Ground Zero me deixou mal acostumada, literalmente falando. Habituada ao enquadramento mutilador e à dublagem tosca, eu tive certa dificuldade (acreditem!) em assimilar a beleza da nova versão. Eu não pude evitar o vício de prestar atenção somente nos ângulos que a imagem em fullscreen me permitia, ignorando o resto da cena. A dublagem em alguns momentos fez, digamos, “falta”, já que a maioria das falas eu sei de cor. Ver frases como “as tripas dele estão pra todo lado!” ser substituída por “ele foi estripado!” definitivamente não tem a mesma graça.

Em linhas gerais a história não foge do clichê da vingança, mas são os detalhes que fazem o filme ser extremamente empolgante. Além do fator gore com pessoas esquartejadas e um homem que tropeça nos próprios intestinos, Chang Cheh introduziu várias situações de suspense, lógica, emoção, erotismo, sarcasmo e ironia, conduzidas sabiamente e mescladas de um modo irresistível. Sem contar as dúvidas sobre os reais sentimentos da ninja e do herói que ficam no ar e que te levam à considerações “psicológico-filosóficas”, como se isso fosse uma coisa muito importante e que fizesse parte da sua realidade. A história evolui em vários ciclos e nenhum detalhe relevante se perde. As coreografias são excelentes, como já era de se esperar, sendo todas as lutas armadas e com poucas acrobacias, coisa incomum em se tratando dos coreógrafos. Mas isso não empobrece as cenas desse clássico absoluto, muito pelo contrário!




[trailer]


Nota: 10!

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Outro filme de ninja bastante aclamado é o Ninja In The Dragon’s Den, também de 82. É considerado por uma outra parcela (menor, felizmente) de fãs o melhor filme sobre o tema. Eu reconheço que o filme é divertido e que a parceria entre Conan Lee (que está a cara do Jackie Chan) e o incrível Hiroyuki Sanada foi muito boa, mas não me causou o mesmo impacto que Five Elements Ninjas causou.


Ainda em 82, Kuo Chui (aka Philip Kwok) estreou como diretor com o filme Ninja In The Deadly Trap (já citado no primeiro parágrafo da resenha). O filme só foi lançado 2 anos depois por causa de uns problemas com a tríade (Kuo Chui mafioso?) e é tido como uma espécie de “resposta” ao Five Elements Ninjas. A produção é boa, com ótimas lutas (Kuo Chui + Lu Feng + Chiang Sheng — tem como ser ruim?) e de fato existem algumas semelhanças com a obra de Chang Cheh (vocês podem conferir a resenha feita pelo amigo Takeo aqui). Mas poxa, será que “Phil” Kwok seria capaz de uma bichisse dessas? *Na segunda foto, Chiang Sheng e Lu Feng dando uma ajudinha, vestidos de ninja*


Nesse mesmo ano ainda (essa é a última "coincidência"), Sammo Hung inseriu alguns ninjas no filme The Prodigal Son, numa seqüência relativamente curta. Na verdade não fica especificado se eles são ninjas ou não, mas convenhamos, um bando de homens de preto, agindo silenciosamente e andando com aqueles passos apertadinhos não pode ser outra coisa, né?


Em 83 (acabou, viu?) Ricky Cheng atuou em Ninja Hunter, seu segundo filme de ninja, ao lado de Jack Long, Mark Long e Alexander Lo Rei. As lutas são excepcionais e temos Jack Long encarando muito bem um vilão que quer destruir o Templo Shaolin com a ajuda de um bando de ninjas.


Há vários outros filmes ainda que são dignos de menção (e tem vários ainda que eu nem sequer assisti), mas eu me limitei a escrever apenas sobre os mais relevantes que foram lançados na mesma época em que o Five Elements Ninjas foi. Eu escrevi pra caramba dessa vez e se você teve paciência de chegar até aqui...muito obrigada, hehe.

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12 comentários:

Matheus Andrade disse...

que filme!!!!!

realmente um clássico!!!!!

parabéns pelo post!!!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

"Eu escrevi pra caramba dessa vez e se você teve paciência de chegar até aqui...muito obrigada, hehe."

É sempre um prazer ler as tuas críticas Aline, apesar de partilharmos de gostos diferentes no que toca ao cinema asiático. Parabéns pelo texto, pois apesar de ser longo, não é cansativo e está muito bem documentado!

Já agora aproveito para convidar-te a passar no meu espaço e votares nos teus realizadores asiáticos favoritos. Muito provavelmente estarão lá poucos que gostes nas opções, mas sempre podes acrescentar os que gostas mais. Eu coloco no quadro das votações.

Bjs!

Aline disse...

Valeu Matheus!

Vou passar lá sim, Jorge, embora eu não conheça muitos nomes. Aliás, eu sempre visito seu blog, e justamente num período que eu fiquei meio "fora do ar" você falou sobre o Drunken Master. Lamento ter lido a resenha tão tarde! E muito obrigada pela força!

Oda disse...

Realmente esse é um filme fantástico.

A pisada nos intestinos ficou marcada na minha cabeça.hahahaha

Raphael Dias (Pin-Head) disse...

hehehehehehe quando vi que era sobre o 5 Elements Ninjas sabia que a Linn ia empolgar XD
Tenho que assistir esse filme logo, mmas nem compensa pegar a versao brazuca tosca....só me resta sentar e esperar alguem arranjar essa versao boa...e você errou ali....o certo seria Ricky "Oh que bicha". =D

Anônimo disse...

Bem, Aline, você sabe que eu sou do time que prefere o Ninja In The Dragon's Den, mas eu posso mudar de opinião assim que eu assistir essa versão remasterizada do Five Element Ninjas que acabei de encomendar no YesAsia (apesar de que eu particularmente gosto mais dos filmes da Seasonal do que da Shaw Brothers).

OK, concordo que o Ninja In The Dragon's Den não causa o mesmo impacto do Five Element, mas acho ele mais criativo em muitos aspectos (não que essa obra-prima de Chang Cheh não seja criativa também, certo?) e o ninja do filme é interpretado por um japonês, o que acho que dá mais autenticidade. Mas no fim das contas, o que importa é que acho ambos os filmes UM ARREGAÇO!!!

Aline disse...

Ninja In The Dragon's Den se sobressai pela comédia, que é muito boa. Já o Five Elements é tensão o tempo todo, não tem alívios cômicos (a não ser a cara de bunda do ator que faz o "Lien Mu", hehehe). Mas como a história do Five é muito melhor fundamentada, eu escolho ele como o melhor.

Anônimo disse...

Ricky "oh que bicha".

Essa foi legal hahahaha.

Raphael Dias (Pin-Head) disse...

hohoho assistiu o filme em questao e deixando todas as brincadeiras de lado eu tenho que assumir:

O RICKY CHENG É UM COREOGRAFO SUUUPER FODAO
ELE É SUPER TALENTOSO
E ESTÁ UM ÓTIMO ATOR NESSE FILME


Pronto...satisfeita dona Lin?? ^^

Aline disse...

Por esse seu reconhecimento (tardio...muito tardio) e pela sua boa vontade em vir até aqui dizer essas palavras tão lindas eu tenho que dizer que TE AMO RAPHUXA! Você mora no meu coração =*

Raphael Dias (Pin-Head) disse...

Eu tambem te amo Lin =**

Unknown disse...

Este é um filme muito bom.Claro que tenho em dvd.
Parabens pelo blog,está espetacular.
Também tenho um mas ainda está no inicio,se quiseres espreitar vai a
http://wuxia.blogs.sapo.pt